“A gente tem dificuldade com o riso”, disse Fabrício Carpinejar. Se for verdade, esse obstáculo foi vencido após a 3ª Caravana de Escritores da 40ª Feira do Livro de Pelotas com a presença dos também escritores Xico Sá e Paulo Scott. Carpinejar talvez tenha percebido e classificado, antes da plateia, o clima do debate, quando disse que eles tinham uma atmosfera circense.
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Foi em clima de conversa de bar que o bate-papo sobre literatura aconteceu na Tenda Cultural João Simões Lopes Neto. Mediados pelo jornalista Pablo Rodrigues, os três escritores falaram sobre o que mais inspira seus textos: as mulheres e tudo o que envolve relacionamentos amorosos. “Comecei muito a partir das minhas próprias desgraças”, declarou Xico Sá. Ele contou que a maior fonte para suas crônicas são, além da gastronomia, as mulheres com quem ele se relacionou ao longo da vida.
A atenção das mulheres também foi o impulso para o romancista Paulo Scott. “Eu era uma criança muito tímida. Começar a escrever era uma forma de chegar naquelas menininhas da escola que me aterrorizavam. Escrever aquelas cartas era muito bacana, embora eu não tenha entregado nenhuma”, confessou o escritor, que há dez anos publica poemas em um blog. O sexo feminino foi tão comentado durante a caravana que Scott chegou a citar a escritora pelotense Angélica Freitas como uma das melhores poetas do país.
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“Eu era tão sozinho na infância que se aparecesse um fantasma pra falar comigo eu não ficaria com medo, eu conversaria com ele. E isso é muito importante para o escritor, o quanto ele trabalha com a solidão”, disse Carpinejar. A instrospectividade faz parte do processo criativo dos três. Sá acredita no mergulho filosófico que cada autor precisa fazer antes de escrever e Scott, o romancista, levou quatro anos para finalizar o seu último livro, dividindo-o apenas com quatro mulheres durante o processo.
A conversa foi tão espontânea, livre de formalidades e íntima entre os convidados que foi difícil perceber quando eles falavam sério ou não. Mas nem por isso deixou de ser menos interessante. “Nós sabemos o peso das palavras, o quanto ela é necessária, de repente a gente pode ter essa atmosfera circense, mas a gente sabe quais são as palavras essenciais, o quanto a gente precisa desconfiar das aparências”, disse Carpinejar. No final da noite, as aparências deram lugar para as palavras, e para o riso. E o que era para ser um bate-papo se transformou em um espetáculo, que certamente já entrou para a história da Feira do Livro de Pelotas.
Texto: Luiza Katrein e Pâmela Morales