domingo, 18 de novembro de 2012

Noite para entrar para história da Feira do Livro de Pelotas




“A gente tem dificuldade com o riso”, disse Fabrício Carpinejar. Se for verdade, esse obstáculo foi vencido após a 3ª Caravana de Escritores da 40ª Feira do Livro de Pelotas com a presença dos também escritores Xico Sá e Paulo Scott. Carpinejar talvez tenha percebido e classificado, antes da plateia, o clima do debate, quando disse que eles tinham uma atmosfera circense.

Foi em clima de conversa de bar que o bate-papo sobre literatura aconteceu na Tenda Cultural João Simões Lopes Neto. Mediados pelo jornalista Pablo Rodrigues, os três escritores falaram sobre o que mais inspira seus textos: as mulheres e tudo o que envolve relacionamentos amorosos. “Comecei muito a partir das minhas próprias desgraças”, declarou Xico Sá. Ele contou que a maior fonte para suas crônicas são, além da gastronomia, as mulheres com quem ele se relacionou ao longo da vida.


A atenção das mulheres também foi o impulso para o romancista Paulo Scott. “Eu era uma criança muito tímida. Começar a escrever era uma forma de chegar naquelas menininhas da escola que me aterrorizavam. Escrever aquelas cartas era muito bacana, embora eu não tenha entregado nenhuma”, confessou o escritor, que há dez anos publica poemas em um blog. O sexo feminino foi tão comentado durante a caravana que Scott chegou a citar a escritora pelotense Angélica Freitas como uma das melhores poetas do país.

“Eu era tão sozinho na infância que se aparecesse um fantasma pra falar comigo eu não ficaria com medo, eu conversaria com ele. E isso é muito importante para o escritor, o quanto ele trabalha com a solidão”, disse Carpinejar. A instrospectividade faz parte do processo criativo dos três. Sá acredita no mergulho filosófico que cada autor precisa fazer antes de escrever e Scott, o romancista, levou quatro anos para finalizar o seu último livro, dividindo-o apenas com quatro mulheres durante o processo.


A conversa foi tão espontânea, livre de formalidades e íntima entre os convidados que foi difícil perceber quando eles falavam sério ou não. Mas nem por isso deixou de ser menos interessante. “Nós sabemos o peso das palavras, o quanto ela é necessária, de repente a gente pode ter essa atmosfera circense, mas a gente sabe quais são as palavras essenciais, o quanto a gente precisa desconfiar das aparências”, disse Carpinejar. No final da noite, as aparências deram lugar para as palavras, e para o riso. E o que era para ser um bate-papo se transformou em um espetáculo, que certamente já entrou para a história da Feira do Livro de Pelotas.



Texto: Luiza Katrein e Pâmela Morales